sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Retalhos do Jornal - O Poeta Postal

 

O Passado nas Páginas dos Jornais

Venho pesquisando bastante sobre a nossa cultura nordestina e o pesquisador é por excelência um caçador de tesouros. Me vejo assim. Me sinto assim. Porém, divergindo dos caçadores reais, eu não quero ficar com os meus achados só para mim, ou ganhar algo em cima deles. Não! Eu quero compartilhar. Quero que todos sintam o que eu senti ao admirar um tesouro que estava escondido pelo tempo e pelos escombros da indiferença.

É por isso que hoje estou dando início no meu blog um compartilhamento mensal denominado Retalhos do Jornal. Claramente, esse cognome foi inspirado no magnífico título do saudoso programa Retalhos do Sertão da Rádio Borborema, em Campina Grande. Dentro desta publicação irei compartilhar fatos inusitados, encontro espetaculares, vultos esquecidos e prioritariamente registros relacionados à poesia do nosso Romanceiro Nordestino. Dessa forma, trago para a estreia deste quadro o retalho do Poeta Postal:

Data do Retalho: Sexta-feira, 8 de Janeiro de 1897

Jornal: A União

Título do Retalho: O Poeta Postal

Autor: Desconhecido

Neste primeiro retalho temos um vulto paraibano, até onde sei, desconhecido. Um poeta popular denominado de Galdino. O texto não deixa claro sua origem, mas acredito que o mesmo viveu na então capital do estado, Parahyba, tendo em vista que o autor da coluna tinha alguma convivência com o poeta e que o jornal A União, sendo órgão noticioso do governo do estado, tinha sua sede na referida cidade. Outro ponto que corrobora isso é que Galdino era um funcionário dos Correios. O narrador também nos revela que Galdino lutou na guerra do Paraguai (27/12/1864 – 8/04/1870), fato marcante em sua trajetória, retornando sempre em sua mente a terrível Batalha de Tuiuti que foi o maior e mais sangrento embate campal de toda a Guerra do Paraguai e do continente sul-americano, por ter envolvido mais de 55 mil homens. Foi travada no dia 24 de maio de 1866, em uma região pantanosa, arenosa e de difícil locomoção chamada Tuyutí, no sudoeste do Paraguai.

Talvez seja importante salientar que esta publicação data de 1897, ainda no período da velha república, e que o Jornal União, como foi dito, era e é uma empresa do governo do estado da Paraíba. Dessa forma, podemos constatar um patriotismo exacerbando no texto do jornal, no qual o narrador deixa de lado o relato sobre o poeta para narrar as terríveis maravilhas da Guerra do Paraguai, quando na verdade esse foi um dos momentos mais horrendos e desprezíveis da história do Brasil.

Voltando ao nosso poeta: Apesar de se utilizar, aparentemente, das formas dos Cantadores de Viola, Galdino é desenhado como um Repentista-Glosador, categoria de improvisador que não se utiliza nem da viola nem da melodia para versar. Acerca da personalidade do poeta podemos constatar um ser alegre que se utiliza da poesia para conquistar vantagens pessoais e aqueles ao seu redor. Galdino se utiliza da “Astúcia”, tão comum em personagens da nossa cultura nordestina, como João Grilo, Pedro Malazartes e Cancão, que, através do seu intelecto, conseguem superar as adversidades que o meio social os impõe, sobrevivendo assim por mais um dia.

Abaixo o texto na integra: 







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